O frio da noite que penetra nos ossos desenhou turvas silhuetas Regressei aos velhos lugares, por todas razões que havia a voltar Tão só rever as calçadas vazias e esquinas sujas que já não estás Mas persiste a sombra da mesa de bar d’um passado de histórias Um mosaico de cacos de vida, pendurado na parede da memória Uma imagem apagada na qual tentamos esboçar nossos retratos E é tanta a madrugada, que me desafia seguir distantes pegadas Peregrinar a um horizonte incerto, punho erguido qual um signo Com audácias empoeiradas, sombras de luta, de sinos e canhões Não ouço os clarins, mas tão só o canto de um incauto rouxinol Alheado em seu voo sobre o território das amargas descobertas Certas vezes volto a ser aquele menino, tal estrela momentânea Para esquivar da miséria, da escuridão e de cinzentas ausências E conceder a emancipação a memórias azuis sobre campanários O sol devolve ao dia o calor, e com ele, a hora de retomar a lida Devolver os sonhos a seus retábulos, assim, até a volta da noite
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