
evidências
Data 16/09/2022 10:13:02 | Tópico: Poemas
| as pessoas estão sentadas. o murmúrio voa encostado aos ouvidos. alguém tosse. outro alguém funga. passa uma cama preguiçosa. alguém é chamado para esperar mais um bocado. aqui morre-se lentamente. e paga-se para aguardar. não há crianças. nem adolescentes. a funerária tem um escritório do lado de lá da rua. tem clientes. todos nesta sala têm um semblante paciente e resignado. eu acho que também tenho. contam-se pelos dedos de uma mão, os sorrisos. chamam-me para esperar mais um bocado. espero. eu espero. todos esperam. chegou um miúdo agarrado ao pescoço do pai. chora. a espera olha-o com olhos esfomeados. observo-a. reparo nas suas expressões. não se descrevem. chamam-me outra vez. entro para o consultório. - aguarde um momento - eu aguardo. a maralha ficou lá fora. - olá, boa tarde - a minha espera acabou. só a minha. volto à cefaleia que me está a matar.
Valdevinoxis
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