Entre palavras

Data 17/09/2022 09:47:52 | Tópico: Poemas

As palavras esconderam-se de mim.
Parece estar a ouvi-las ao longe, dizerem,
Não digas nada.
Não há palavras, para o que tu queres dizer.
Calo-me então. Acho têm razão.

Faltam-me as palavras.
Aquelas certas, direitas ao sonho e ao coração.
Aquelas que enternecem, sorriem, choram e memorizam.
Aquelas que nunca serão esquecidas.
Aquelas que calam fundo.

Não digo nada, porque me faltam além das palavras,
as vírgulas e os pontos de exclamação.
E também as reticências ou um simples ponto de interrogação.
Falta-me a verdadeira arte para a intenção,
para o recado e suposição, para a provocação.
Não dizer nada é quebrar este silêncio da manhã.

É lembrar todos os dias, horas e momentos.
Todas as ilusões e ambições, todos os propósitos de paz. As soluções.
Acenar ao vento. Colher a rosa do jardim, inspirar o perfume,
oferta do mar, observar o voo do passarinho livre,
sentir o cheiro da terra orvalhada,
mergulhar nas cálidas ondas do azul, verde esmeralda da minha paixão.

Sorrir ao sol e à lua crescendo.
Embalar cansaços e insónias.
Abraçar noites de descanso.
Receber o colo da amizade e adormecer a minha saudade.
Navegar no sonho e acordar manhãs.
Não dizer nada, é, avistar horizontes de suposições.

Agarrar presentes, sem olhar a promessas.
Futuros planeados. Jurados. Sortes sorteadas. Acasos.
As palavras esconderam-se de mim.
Fiquei com as mãos cheias de nadas, mente suspensa
Coração sentido, alma agradecida e tanto por dizer.
Oiço ao longe repetirem, não digas nada.

Não há palavras, para o que tu queres dizer.
E eu, fico assim, entre palavras.


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