
O Circular
Data 20/10/2022 20:18:44 | Tópico: Poemas
| Caminhei entre girassóis de sonho e as tormentas pela cidade Em meio às chuvas dessa primavera fria travestida de outono Vi no espelho da noite, mofado de ausências uma flor exilada Alucinado, sonhei em silêncio os pesadelos da vida e da morte
Enquanto apreciava as belezas ao avesso da cidade iluminada A mostrar essa realidade que sangra, qual um ônibus circular Um coletivo na sua viagem pela periferia, a balançar destinos A balançar o sangue triste, os rostos amanhecidos de miséria
Indo e vindo entre incessantes misérias e as mãos estendidas Enquanto alguns acima bem voam, o céu sob as constelações Remoto demais para ver que outros lutam pelo cálcio da vida Entre o gozo e o medo que essa distância seja intransponível
Não olvide que a pedra qual estamos é uma entre incontáveis E ocupamos o que é, na realidade, o espírito de toda a criação Que dialética poderia haver e justificar essas tantas diferenças Entre esta umidade gris de cá e os invernos serenos de acolá
Quando os dias, em trajes de frio, ficarão mais macambúzios A poesia não vai reduzir a distância entre março e setembro Nem o poema irá, com palavras escancaradas, diminuir a dor Mas faz saber, tristemente, que é tanto escrito e pouco se lê
Como podemos, com estes versos, amar em toda sua pureza de vinho e sangue e salvar o coração ao final das madrugadas?
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