
ANGÚSTIA - UMA TRILOGIA
Data 26/12/2022 14:41:56 | Tópico: Sonetos
| ANGÚSTIA - UMA TRILOGIA I
Certas palavras não podem ser ditas Sem que a verdade d’elas forte irrompa. Prescindem de ouropéis; de toda pompa, Quando um maior sentido as faz escritas.
E aquele que ousar ver suas desditas Anunciadas ao vulgo por tal trompa, Antes que cada verso outrem corrompa, Há-que se vazar cego as próprias vistas!...
Assim, essa palavra impronunciável, Sob pena de evocar imensa dor Ou mesmo uma tristeza interminável,
Dê sentido ao sentimento de torpor, Conhecido entre o estúpido e o inefável Da mente abandonada ao próprio horror.
* * * II
Hei sido reticente quanto a mim, Mas ao puxar angústia, átrio do nada, Minh’alma revelou-se desolada, Por labirintos vãos do início ao fim...
Encadeei palavras, mas, enfim, Aonde vão se não chegam a nada? Após tudo, findei minha jornada Enclausurado à torre de marfim…
Por desvãos da memória a pena escreve Indiferente à lúcida derrota E às remotas ruínas onde esteve.
No entanto, seja sim digno de nota: Todo aquele que a versos vãos se atreve Vagueie inopinado em terra ignota!
* * * III
Algo tem-de acabar com essa dor… A angústia inenarrável do momento, Que queda sobre mim sem mais intento Com a fúria d’um anjo executor. E embora reste ver o sol se pôr Imerso n’um total abatimento, Ainda hei-de cantar de novo ao vento Um desencanto a mais de sonhador.
Sonhos, deixo-os perdidos meus ideais... E as luzes vão partindo com o sol Em meio a pensamentos vãos demais. Pouco difere a aurora do arrebol... Tudo não passa d’uma angústia a mais Do peixe que suplica pelo anzol.
Belo Horizonte - 12 12 1998
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