
Tragédia a beira-mar
Data 23/02/2023 20:06:52 | Tópico: Poemas
| Quando as nuvens passam e o céu é feito do azul cobalto É sinal que nova chuva vem, o sol é só memória no poente O eco meramente repete as mentiras que do vento ouviu Ideia de futuros provisórios natos e findos em mausoléus Há poucas coisas tão ensurdecedoras quanto é o silêncio O poeta é resistência que não vai calar rasgando-se livros Como mago, salva palavras em afronta à usual servilidade Tatuando-as na lembrança, à esquiva de ímpias tradições Nada aqui ou além, imóvel qual a pedra aceirada pelo rio Assim ilude os algozes, oculta seus dentes entre a bruma
Desde as mais longínquas primícias, estava lá a oposição Sempre fugaz fazendo o inventário de vantagens quistas Toma lá, dá cá rumorejam ocultados detrás dos biombos No mais, esperneios pueris desviam olhares de suas redes Fica para trás dessa rápida investida, só o chão crestado
Um povo destruído pela intempérie, há tanto anunciada Jacentes e esquecidos são os invisíveis aos olhos nobres Dois brinquedos que flutuaram sobre a lama da omissão Sinalizam famílias extinguidas, o fim das fábulas infantis Homens de pudor incorpóreo de promessas incumpridas
Resta o odor acre da terra, o pasmo, o fervor sem fruto O sol a burlar o cinza faz brotar a parede pintada a lápis Emergem da lama escorrida em meio a outros destroços Com a certeza de crianças que já nasceram moribundas Serão lembradas entre lágrimas quando nova chuva vier Ao poeta munido de sua pena, obriga recriar nos versos O grito dos que não puderam gritar, qual fosse vinga-los Evitar àqueles que, anos a fio insolidários, vistam louros Façam-se protagonistas salvadores do mal que causaram Olvidando que esse sangue derramado é do seu descaso
Mais um verão findo e almas soluçarão entre as árvores A poesia impedirá esquece-los: são vítimas da corrupção
Mais uma tragédia anunciada se repete, desta vez na Barra do Sahy no litoral norte de SP. Prefeitos que agora querem posar de salvadores, foram omissos ano após ano incompetentes face aos avisos do risco ou pior coniventes apesar deles em nome da "solidariedade" aos tubarões da construção que ocupam (mostrando sua gratidão em sítios e triplex) as melhores áreas do município. Ao trabalhador restam as encostas, o risco e a morte.
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