
Travessia
Data 24/02/2023 11:33:37 | Tópico: Poemas
| Lembro que era crepúsculo e o sol já ficara na memória Sabia apenas de seu corpo esguio e seus olhos amêndoa Nunca perguntei nada mais e nos víamos livres de culpa Será que em todo beijo uma boca beija, outra é beijada? Digamos fosse minha nada sagrada e única incomunhão Um idílio ao acaso, sem compromisso, sob um céu limpo Mas o tempo passa e tudo sob seu jugo vê o movimento Por vezes quando, pela noite, a olhar pela janela da vida Atinamos que a morte poderá vir, insolente e sem aviso Sem esse amor anônimo a derramar uma lágrima sequer Algo a guardar na memória, nem chance de despedidas Nos vemos miúdos, um parcel de terra não demarcado E saber se a morte de fato viesse, não ter onde deitar Descobri, então, que tudo que eu tinha era desusado Qual guarda-chuva sem pano ou violão sem saber tocar Uma ponte a atravessar, ninguém na margem a esperar Em meu livro mil páginas em branco tudo por escrever Perguntei-lhe o nome e lhe revelei gostar mais de azul Abri-lhe todas as portas, ela me contou seus segredos O número de seus sapatos. Fizemos planos e foi assim Decidimos aceitar todos avisos que o amor traz a dor Porém do outro lado da ponte, onde havia tão pouco Muito mais que outras coisas, temos alguém a esperar
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