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 onde eu já não moroData 21/03/2023 23:37:04 | Tópico: Poemas
 
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 Estou só,
 Somente só
 nesta imensidão de palavras
 turbas, ébrias como as pontes
 que se abatem sobre nós
 
 nós,
 que a tinta derramamos
 em eclipses nostálgicos
 e depois,
 ah, depois vergamo-nos
 à procura das sobras que restam
 do tempo que não vivemos
 
 eu estou só, completamente só,
 fujo de mim com medo de me encontrar
 e ser o que nunca fui,
 e o que fui voltar a ser
 ou então não querer nem uma coisa nem outra,
 ser e mais nada;
 
 qualquer pedaço de chão me servirá
 e a loucura que calo nestas mãos vazias,
 nestas mãos cheias de nós, que sangram
 como lapiseiras à procura do traço
 onde possa repousar a cabeça
 ou então ampara-la simplesmente,
 e sossegar este desassossego
 que teima em lembrar-me o tempo
 onde eu já não moro
 
 Conceição Bernardino
 Carpe Diem
 
 
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