Por quantos livros vendi a minha alma?... Por quantas páginas inocentes Por quantas folhas profanadas Por quantos troncos despojados do seu cerne? Por quantos pedaços de alma da sagrada árvore da Vida comprei a pretensão de ser Poeta?...
E que ganhei com isso senão uma floresta de vaidades queimada no fogo frio de mil palavras que nunca saberei
escrever
Senão a descoberta de que nas veias da madeira imolada corre sangue igual ao que vive em mim
a morrer?
Ah, gente deste meu tempo de catarses de saudades de amores de contemplações e competições inúteis vanglórias e vanidades!
...que mal nos fazem as árvores de hoje para as vilipendiarmos assim em folhas de papel sem asas julgando que as raízes que deixamos vingarão florestas novas?...
Não vos iludais o chão que pisais é só promessa de cinza arrefecida rés-ao-chão dos pés que hão de vir.
E as folhas dispersas migrarão no vento abandonando a aridez da vossa alma exaurida de seivas vivas.
Tomai e bebei: este é o cálice de licor negro que vos há-de imortalizar mártires duma Arte que não cresce nas árvores mas à sua fortuita SOMBRA.
Por ELA, vos digo: “Se teimardes em escrever... cuidai do Sol que A permite e das Árvores que LHE deveis
prometer."
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