Folhas do meu desvento

Data 24/04/2023 11:45:36 | Tópico: Poemas

Por quantos livros vendi a minha alma?...
Por quantas páginas inocentes
Por quantas folhas profanadas
Por quantos troncos despojados
do seu cerne?
Por quantos pedaços de alma
da sagrada árvore da Vida
comprei a pretensão de ser Poeta?...

E que ganhei com isso
senão uma floresta de vaidades

queimada no fogo frio
de mil palavras que nunca saberei
escrever


Senão a descoberta

de que nas veias da madeira imolada
corre sangue igual
ao que vive em mim
a morrer?


Ah, gente deste meu tempo
de catarses
de saudades
de amores
de contemplações
e competições inúteis
vanglórias e vanidades!

...que mal nos fazem as árvores de hoje
para as vilipendiarmos assim
em folhas de papel sem asas
julgando que as raízes que deixamos
vingarão florestas novas?...

Não vos iludais
o chão que pisais
é só promessa de cinza arrefecida
rés-ao-chão dos pés que hão de vir.

E as folhas dispersas
migrarão no vento
abandonando a aridez da vossa alma
exaurida de seivas vivas.

Tomai e bebei:
este é o cálice de licor negro
que vos há-de imortalizar
mártires duma Arte
que não cresce nas árvores
mas à sua fortuita
SOMBRA.


Por ELA, vos digo:
“Se teimardes em escrever...
cuidai do Sol que A permite

e das Árvores que LHE deveis

prometer."



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