
Cena de Bar
Data 15/05/2023 01:26:31 | Tópico: Poemas
| Foi um tempo em que ainda não conhecia teu lábio sagrado Vesti uma máscara tranquila no inexistente tempo da noite E eu vivi a noite boêmia desdobrada atrás de cortinas sujas Em personagens pitorescas nas esquinas escuras da cidade A sorver o ávido, cálido cálice de licor ao pé da madrugada Á porta da casa uma sombra, quase vertigem, agita as mãos Aquele que rejeita seu pão é aquele a quem cabe os restos Um solene iletrado se acerca para ler o poema que escrevo Mostra obscuro rancor porquanto meu escrever filosófico Entanto não sou enquanto poeta mais do que é meu escrito Mas sei que vale dizer-lhe que se à noite todo gato é pardo É, por paradoxo, a luz o que faz as sombras mais profundas Uma multidão de ausentes envolta na sua vigília indesperta Recolhe as migalhas do banquete ao qual não foi convidada Assim guarda no coração tudo de iníquo que encontrarem No dia seguinte serão contadas tantas histórias inexistidas Os traidores, suas pálpebras semicerradas e olhos oblíquos Levantam fingindo respeito para saudar a quem desprezam Os bêbados transportam suas frágeis certezas até as mesas Avançando pé ante pé pela vacilante monotonia dos copos Numa mesa de canto, observo todas as cenas desse enredo Inglória busca ao amor perdido, que nunca pude encontrar Ela passou por mim com seu hálito de hortelã e eu nem a vi
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