riachos da tarde

Data 20/05/2023 09:09:21 | Tópico: Poemas -> Sombrios

sinto as sombras fatigadas
nelas me deixo prisioneira
aqui, somente o corpo ainda vive
apesar da canseira e,
dos instantes felizes que não tive
a solidão é a medida total
agora do caminho,
meus olhos são riachos da tarde
que correm lentos,
nem adivinho,
quantos instantes
de silêncio têm meus pensamentos.
os melros que cantam em mim
andam distantes, na obscuridade,
voando alto, trazendo-me saudade,
indolente, resvalo pelas almofadas
recordo os lugares que nos possuíram
algumas imagens caem já rasgadas,
nos lençóis quentes, que nunca se abriram.

há um vento que tenta abrir-me a boca
e sinto ainda o beber lento e doce
desses dias, deixando-me louca,
cresce na alma o frio das primeiras sombras
abre caminho no regaço da noite,
apaga-se meu sorriso, o brilho da murta,
e o perfume do jasmim,
e dormem os melros que habitam
em mim.

natalia nuno


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