A Mão Que Em Ti Amanhece

Data 26/05/2023 12:32:46 | Tópico: Poemas

Na boca da noite astros estrelaram
Cuspindo mil cometas pelo empíreo
Atormentando os deuses já doentes
Que temem cair em Terra arrasada.

No ventre do dia corre uma lágrima
Procurando um lugar, uma lagoa
Onde sonham as brumas ser nascidas
Ou em piscinas de risos escondidos.

Mora um ermitão no cume do monte.
Entre rochas dormita um eremita
Em tochas carregadas de vapores
Sem valores mito ou arqueológicos.

Uma gota quis virar tempestade
Aguarda, ansiosa, virar oceano.
Um grão de areia que um dia foi furor
Espera que uma rosa faça raiz em si.

Lá longe, entre o meu e o teu horizonte
Há uma prece não dita, beijo não dado
Sonho não sonhado, abraço não recebido
Do meu provável inimigo.

Entre unhas e travesseiros há cor
E o som bom do silêncio que impera
Tende a ser um grito hirto de mudez
De nudez enérgica, de eficiência poética.

Tudo que eu te digo ou transmito
Por mais que eu rasgue a crisálida
Eu sempre vestirei a indumentária
De um velho dromedário australiano.

Por mais que eu minta ou que mate
Aquilo que renasce mais forte todos os dias
Hidra hercúlea do sul da América do Sul,
Pois, de repente, sou serpente esfíngica e latina e devota que ora, que te abomina , que te lambe e te devora.

Sou o tear que madrugadas tece.
O vapor tenebroso que advém do aço.
Sou muito mais do que digo ou faço
Sou a mão que bate e que em ti... Amanhece.

Gyl Ferrys




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