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 O tempoData 27/05/2023 20:45:26 | Tópico: Poemas
 
 |  |  O Tempo
 Jayme Caetano Braun
 
 O tempo vai repontando
 O meu destino pagão
 Vou tenteando o chimarrão
 Da madrugada clareando
 Enquanto escuto estralando
 O velho brasedo vivo
 Nesse ritual primitivo
 Sempre esperando, esperando...
 
 É a sina do tapejara
 Nós somos herdeiros dela
 Bombear a barra amarela
 Do dia quando se aclara
 Sentir que a mente dispara
 Nos rumos que o tempo traça
 Eu me tapo de fumaça
 E olho o tempo veterano
 Entra ano e passa ano
 Ele fica a gente passa
 
 Que viu o tempo passar
 Há muita gente que pensa
 Mas é grande a diferença
 Ele não sai do lugar
 A gente que vive a andar
 Como quem cumpre um ritual
 É o destino do mortal
 É o caminho dos mortais
 Andar e andar nada mais
 Contra o tempo, sempre igual.
 
 Tempo é alguém que permanece
 Misterioso impenetrável
 Num outro plano imutável
 Que o destino desconhece
 Por isso a gente envelhece
 Sem ver como envelheceu
 Quando sente aconteceu
 E depois de acontecido
 Fala de um tempo perdido
 Que a rigor nunca foi seu.
 
 Pensamento complicado
 Do índio que chimarreia
 Bombeando na volta e meia
 Do presente no passado
 Depois sigo ensimesmado
 Mateando sempre na espera
 O fim da estrada é a tapera
 O não se sabe do eterno
 Mas a esperança do inverno
 É a volta da primavera.
 
 Os sonhos são estações
 Em nossa mente de humanos
 Que muitas vezes profanos
 Buscamos compensações
 Na realidade as razões
 Onde encontramos saída
 Nessa carreira perdida
 Que contra o tempo corremos
 Já que, a rigor, não sabemos
 O que haverá além da vida.
 
 Dentro das filosofias
 Dos confúcios galponeiros
 Domadores, carreteiros
 Que escutei nas noites frias
 Acho que a fieira dos dias
 Não vale a pena contar
 E chego mesmo a pensar
 Olhando o brasedo perto
 Que a vida é um crédito aberto
 Que é preciso utilizar.
 
 Guardar dias pro futuro
 É sempre a grande tolice
 O juro é sempre a velhice
 E de que adiante este juro
 Se ao índio mais queixo duro
 O tempo amansa no assédio
 Gastar é o melhor remédio
 No repecho e na descida
 Porque na conta da vida
 Não adianta saldo médio!
 
 jmd/Maringá, 27.05.23
 
 
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