Corvo

Data 30/05/2023 13:30:18 | Tópico: Poemas -> Góticos

Escrever às vezes
É um estorvo.

O quanto penou Poe
Até chegar ao O Corvo?

É vasto o céu
Assim posto,

É vasto o céu
Assim póstumo!

O quanto penou Poe?
E ele está morto!

Mas o corvo,
Com suas asas

Sobre a estátua
De Palas,

Mas o corvo
Sempre à nossa espreita,

Atrás, na frente,
À esquerda ou à direita;

Mas o corvo,
Sempre à nossa porta,

É um estorvo,
Velho, sempre novo,

Ave, Demônio
A estraçalhar-nos os sonhos,

A pousar no busto de Palas
E no meu ombro,

Negro, negro, negro
A curvar-se no meu leito.

Grasna que a morte
É para todos

E que a vida e a sorte
São nosso maior engodo,

Grasna aos quatro cantos
Como um louco.

Oh, o quanto penamos
Lendo O Corvo?

Irmão, Poe,
Ele também se foi,

Irmão, Lee,
Nunca mais o vi -

Mortos, mortos, mortos
Aos pés dos corvos!

Hoje é uma asa negra,
Deus sem trono,

A velar-me o sono,
Meu corpo que só deseja.

Nunca mais! Nunca mais!
É o agouro que nos putrefaz.

Matou-me o verso,
Negreja-o agora

O último fóton
Do universo.

Sinto-me fraco,
Amargo, travo,

Sinto-me sem espaço,
Um velho calhamaço,

Sinto uma vontade
De me matar,

De nunca mais amar,
De reescrever-me almaço,

De despojar-me
Do corpo, da carne,

De cortar-me o braço
E dormir, velando-me,

Para curar-me de tanto
Medo e cansaço.

Oh, o quanto nos alertou
O grito do Grou

Antes que nos viesse o Corvo
Aos umbrais após o voo?!
Este poema foi escrito inspirado no clássico O corvo de Edgar Allan Poe.



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