Não-tempo

Data 04/07/2023 10:05:50 | Tópico: Poemas



Ainda me procuro naquele silêncio arrastado

que o vento levanta. Mas os meus olhos estão gastos

deles sobram apenas as raízes

e a luminosidade baça

que atravessa a vidraça

e arredonda o vazio da sala

repleta

de uma fumaça em dó maior

a pontilhar os móveis

que (no fundo) já lá não estão

também eles querem ser

desmemória.



Então invento um refúgio

num chão

feito de um não-tempo branco



[ onde também eu perdi a cor ]



e de portas trancadas por dentro

que me asfixiam

na dor.



E naquele silêncio arrastado que o vento levanta

há ecos de passos

que passam sem passar

e fogem fogem fogem

e deixam uma voz

que na brisa me avisa



_ Antes ser pó

esquecimento e cansaço

no meu descompasso

do que ser laço lembrança

veludo ou aço

na árvore em que não sou

nem folha nem sombra da vossa história.





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