Ah, eu queria impedir a aparição de tua figura Fechar com cadeados a tua lembrança em mim Silenciar o teu perfume nesta teia tão confusa Nutrir o olvido c'as exuberantes imagens tuas Fingir que, de repente, não me roubas o fôlego Que os teus olhos tão mansos quão profundos Já não me fitam de soslaio, quando me distraio Teu corpo nu, demasiado meu, tão vertiginoso Que, por decoro não revelo, tanto me inundou Felina, doce e incontrolável ignorando as portas Que eu punha para negar a nossa cumplicidade Disso tudo, agora me sinto incapaz de esquecer Ao invés, faço, à maneira de um eco, é ressoar Eu te multiplico, reinvento em tantos espelhos E já que estou como um louco, que fosse feliz Na sonoridade de tua lembrança que me toma Dourada, marcante, por vezes, serena e ligeira Por vezes com a profundidade de um lamento Noutras desesperada e violenta qual o silêncio Mas sei que falharão as tentativas silenciar-te Pois não há como calar algo da história de nós Que vive a buscar mais, mas jamais incompleta E o tanto que já te quis, derramei neste poema Onde eternamente bailará tua luz intrometida Através dos vitrais dessa minha eterna solidão