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 oh, se cá relampeia
 e  a brasa não incendeia
 as carcundas e barrancas
 do rio espelhado
 e se turva à tarde mansa
 que o tempo tem desenhado
 
 ah, quem já se volteia
 e margeia os olhos pro'utro lado
 d'água que  esperneia
 tecendo teia
 armadilha no descampado
 
 ah, se cá relampeia
 todo medo no meu coração
 se nem inda é estação
 da chuva molhar o prado
 
 muitos barcos passaram
 muitos têm me levado
 
 ó caminho d'água
 tão longe norteia
 meu curto legado
 
 ah, se vejo o rio bufante
 num turvo entardecer
 dum céu que pranteia
 mais pranteia  meu enfado
 
 ah, a bicharada se esconde
 cada qual com seu manto
 nas tocas-locas-cantos
 em quietude de Santa Ceia
 silvo agudo de vendaval
 iara num canto de sereia
 
 
 ó temporal
 que me furta o viço
 desta terra ser amante
 desde sempre doravante
 
 bicho dos bichos
 crio asas fugidias medrosas
 ao rio caudal que coleia
 brindando a mais um verão
 de-tristeza-pé-no-chão
 que minha coragem
 apoucada receia
 
 oh, se cá relampeia
 e a brasa não incendeia
 meu fervor temporão
 assim como a vida
 a natureza pra ser linda
 por momentos se enfeia
 fecunda à (re)criação
 
 
 
 
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