Conversas ao espelho-Reflexo (5)

Data 08/05/2008 21:37:03 | Tópico: Textos

Olhas para onde? Para mim? Nunca me viste para agora te arregalares todo nesse enviusado de cabeça já calva, que espectáculo, tem juízo, tens idade para compostura não para devaneios de boca aberta! O quê? Será que adivinho a prótese dentária a sair do seu sitio no abismo da curiosidade? Que vês tu velho? Que queres tu de mim? Ah, já sei… invejas-me a beleza, a frescura no verde tempero da ágil verberança sem brancas de lembradura ! Ah! A tez brilhante e convidativa ao afago suave das bocas cheias de risos!

Pois é velho.

Lamento ser eu o portador de tal mensagem. Mas… Tu já foste! Já eras!

Mas que tanto olhas?! Não me ouviste? Afasta-te, vai para longe, não quero sentir o teu cheiro de coisa bafienta a esverdinhar a minha imagem, fazes-me mal, quase me assustas e me levas a ter a alucinada imagem de que possa conhecer-te!
Quem és tu? Quem és tu velho que me lembras o meu avô e o meu pai também… Quem és tu que quase adivinho no rasgar dos olhos o sorriso antigo do que agora vejo, a marca do anjo no lábio que é meu e que declino em ti… agora, velho, agora novo, agora eu, que um dia serei o que vejo no reflexo de ti.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=36835