CRIANDO UMA NEWSLETTER

Data 29/07/2023 03:18:04 | Tópico: Crónicas

(Texto de estreia da minha Newsletter: https://lucasluiz.substack.com/p/criando-uma-newsletter?sd=pf )

i.
Meu início foi como o de qualquer autodidata viciado com a visão romantizada do ofício literário: pensava que escrever tinha a ver com talento. E, claro, era eu um desses seres abastados pelo divino, alguém cujas musas beijaram as mãos. Então, sonhava o sonho desses todos à época da internet: criar um blog, atrair milhares de leitores deslumbrados por minha genialidade precoce, para – depois – ser descoberto por algum agente ou editora, publicando e vendendo centenas de milhares de livros de maneira contínua. Bom, afirmar a tremenda ingenuidade disso tudo seria dar cabo ao óbvio.
Nos idos de 2010 dei a início a minha empreitada online, estreava no site Recanto das Letras, por indicação de um conhecido – conhecido este que afirmava ter conseguido angariar alguns euros com seus versos em revistas diversas da área. Restava-me aguardar os louros, mesmo sem a mais mínima noção do funcionamento de um periódico literário ou mesmo do site.
A internet gerou-nos uma falsa sensação de audiência com o advento das redes sociais, como se existisse de fato um público sedento de interesse por nossas banalidades. Até certo ponto foi isso mesmo, mas uma estrutura desse tipo já nasce datada.
A necessidade de buscar alternativas viáveis para a construção de uma audiência realmente interessada no trabalho por mim produzido trouxe-me aqui ao Substack. Uma audiência capaz de criar um diálogo maduro, afeita às discussões técnicas e a busca constante de um aprofundamento literário.

ii.
Os meus primeiros rabiscos catalogados datam do longínquo ano de 2008, até recordo-me de outros, precedentes, mas hoje se tornou apenas memória distante e incolor. Como, por exemplo, a malfadada escrita de letra musical aos oito anos de idade, quando ainda contava com a condescendência familiar, sendo elogiado para não ter retirado de mim o entusiasmo infantil da descoberta. Outra lembrança fixa vem da escola, precisamente a quarta série, no exercício de redação, cujo tema era o surgimento do arco-íris, e, eu, munido de imaginação, fui capaz de criar uma fábula elaborada – o quão possa ser para alguém de dez anos – onde a morte do bondoso rei, fazia-o renascer no céu feito sete cores, e, com isso, terminei por ganhar palavras elogiosas da professora diante toda classe mesmo com a nota média de corte. Contudo, de concreto, inúmeras folhas soltas de cadernos, onde quebrava as angústias adolescentes em estrofes, na tentativa de encontrar-me no deslocamento desde cedo imposto a mim. Aí se deu o início do processo, antes de sonhar em construir um projeto estético dalguma permanência, eu já buscava a estada no silêncio.

iii.
"É preciso escrever um poema várias vezes para que dê a impressão de que foi escrito pela primeira vez." - Quintana

Compreendendo com mais afinco as questões do trabalho – e literatura é um trabalho com T maiúsculo, árduo e contínuo – dei de cara com a realidade crua: não existe qualquer glamour na escrita. O caminho segue a direção oposta, de minuciosa lapidação das frases/versos, feitos sempre nos instantes mais solitários onde o silêncio repousa. Um movimento repetitivo, circular, de retomada. “A” ideia demonstra-se insustentável nesse processo. Mera ilusão da visão romantizada. Há necessidade de atenção aos mais mínimos detalhes, feito um escultor tirando os excessos para deixar visível o corpo. Mas isso por si só não basta – literatura não está na sua materialidade. Ou melhor, não está APENAS em sua materialidade. Ela surge (como toda arte) de uma espécie de tensão entre forma e conteúdo. E conseguir identificar esse filete requer certo amadurecimento espiritual para afinar a intuição da melhor maneira possível.

iv.
Certo sentimento agridoce toma-me quando releio as minhas participações por alguns dos Periódicos Literários existentes por aí, um pequeno orgulho de ter conseguido aparecer nesses espaços depois de inúmeras negativas – ou seja, resiliência e força de vontade para reconstruir o necessário, ajustar as arestas – mas, hoje, ao mesmo tempo, instala-se um forte constrangimento ao notar a insuficiência daqueles versos tão somente pretensiosos. Andei em círculo durante vários anos, crendo dar passos na direção de algum êxito literário, quando tudo que fazia era cavoucar um único lugar. Por sorte (ou providência – mas o que é a providência senão aquela incansável vontade de fazer acontecer?!) encontrei o Masterclass de Criação Poética de Brian Belancieri. Eis um soco na cara. O sacode necessário para fazer despertar do torpor da vida inteira: eu não sabia nada. Contudo, a vivência na pele de um pensamento socrático (ao menos atribuído a ele) fora o combustível para continuar com ainda mais entusiasmo – sabendo que não sei, já estou passos à frente da grande massa.

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