Talvez um templo no alto da montanha guarde o silêncio dos meus dias

Data 31/07/2023 16:05:50 | Tópico: Poemas -> Amor

O dia declina, a noite toca o rosto das tardes desenhadas nas planícies, a minha respiração sobe e desce assim como a Luz dos sorrisos que habitam em mim.

Talvez, talvez os dias plantados no asfalto quente da noite sucumbam ao frescor dos meus olhos e o dia repleto de nuances de delicadeza tatue na minha pele os aromas doces e suaves do verão e eu aceite de olhos fechados em reverência uma oferenda ao Deus do amor.

Talvez eu ainda acredite em utopias e o amor não seja um embaraço nem uma farsa que demore para ser descoberta, e o som da mímica dos teus olhos se deixe perfumar pelo aroma dos meus.

Talvez um templo no alto da montanha guarde o silêncio dos meus dias e faça espargir o som acetinado da minha voz suavemente e se escute o murmúrio dos ciprestes a desvendarem o mistério da delicadeza do amor, numa prece ao céu erguida.

Talvez se salvem os grãos das sementeiras da esperança e as mãos estejam ávidas para as lançarem à terra numa dança lenta a ressuscitar os sonhos em cada rebento a despontar no solo árido da vida.

Quem sabe ainda aprenda a aceitar que a humanidade está em crise e o amor continua a ser amor e eu continue a acreditar na verticalidade dos gestos dentro dos dias.

O dia está prestes a sucumbir nos braços da noite, será que ainda me posso abandonar a este momento e esperar que a lucidez me esconda a vergonha de ainda acreditar?

Tanto céu de utopia a mergulhar a esperança dentro do desalento, uma vontade férrea de calar a voz que soluça no peito para acordar a sensibilidade e deixar o amor ser amor.

Rasgo o véu da misericórdia, que a minha voz se levante em justiça e em verdade e perante toda a insensatez das palavras pronunciadas que o meu ventre seja como uma gestante que espera o fruto abençoado e a bondade seja como o perdão no colo do amor...

Alice Vaz de Barros


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