
No fim
Data 19/08/2023 18:04:20 | Tópico: Poemas
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No fim, o que nos resta? A fidelidade do cão A abanar o rabo Entre bancos e cadeiras Mudos após a festa? Amplo espaço vazio Sem bancos ou cadeiras, Só com o cão, Gárgula a contemplar A última laje do poeta? No fim, o que nos resta Senão as frestas Por onde víamos O incomensurável desfile De nossos ardores e metas, De nossos beijos e desejos Porque hoje Os já não vemos mais, Os já não temos mais? Cobriu-as por completo a hera, Devorou-os o colmilho do tempo, Essa fera! Agora, tudo calado, Sem riso, sem pranto, Jardim morto sem giestas, Fruto maduro no chão Sem ninguém para comê-lo, Folhas mortas, dispersas, Manto enlutado da terra. No fim, o que nos resta? Pouca coisa, alguém Que, às pressas, Nos faz uma prece! No fim, o que nos resta? Pouca coisa Sem qualquer senso, Silêncio - canto sem gesta! O fruto, as folhas, O cão, o chão - Suma, súmula De tudo: Urna de treva.
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