A volta

Data 15/02/2007 12:56:21 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Chateia-me a maneira de eu ser tão vulnerável,
Merda de insulto nesta pele impermeável,
As gotas caiem secas no ardor do meu peito,
Copo de aguardente para levar com o preconceito,
Roda no pavimento a rolar a 100 à hora,
O frio que tu sentes é o vento lá de fora,
Aquilo que tu nunca esperavas vem agora,
O corpo mais profundo é o primeiro que chora,
Irrita-me a despesa de saliva para ver
Nada quando era suposto tudo acontecer,
Afia bem o gume dessa faca e esquarteja
O meu corpo aos bocados num local que ninguém veja,
Bem no fundo deste rio estava um peixe a passar,
Viu um saco preto grande a tentar gesticular,
Eras tu que no vazio tentavas respirar,
Bem te disse para saíres mas preferiste ficar,
Enquanto eu na margem reflectia o meu olhar,
Fizemos um peão antes do carro capotar,
A cor que tu vês é uma resultante de azar,
Ficavas bem melhor com a pele no teu rosto,
Ninguém sabe mas eu sei que começou com fogo posto,
O incêndio deflagrou quando estava a anoitecer,
E tudo o que eu queria era uma razão para adormecer,
Debaixo do móvel escondo a minha preciosidade,
Tudo quanto considero útil para a liberdade,
De vaguear por estes bares e ter a felicidade
De ter o copo cheio para brindar aos tempos passados,
À gargalhada da juventude, aos futuros nossos pecados,
Enterrados nesta terra num momento indecente,
Objectividade na pesquisa de desenvolvimento da tua mente,
Sei que tens espírito de igualdade quando o espelho está na frente,
Chamaste todos os anjos possíveis e mesmo assim ainda não és crente?
Rebolei-me no chão molhado e banhei-me de prazer,
Ao sentir o teu belo corpo com o meu a aquecer,
Fiquei ali imóvel e deixei desenvolver,
Eras livro de historia interessante para ler,
Passava o dedo na língua enquanto te folheava,
Ao mesmo tempo tirei do peito a faca que me trespassava,
Larguei as mãos do volante enquanto a musica passava,
Sentia o carro a desviar mas eu não parava,
Deixei o álcool tomar conta enquanto acabava
A breve volta ao mundo que agora realizava.
Bem no fundo deste rio estava um peixe a passar,
Viu uma bela sereia lá no fundo a cantar,
Chegou-se um pouco mais perto para poder escutar
As palavras que o defunto estava agora a murmurar…

2001



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