O lado de cá do espelho

Data 09/05/2008 23:40:56 | Tópico: Textos

De início não havia essa espera apelidada de esperança, tudo existia, mas de tanto amar escrevi a vida e fiquei somente com a cor das palavras nos olhos, seu som impregnado nas retinas e, talvez, no meu ar a memória do extremo ainda paire, ainda flutue o poema que acabou, talvez. Refletindo acerca do poder que me confere a solidão posso saber que o silêncio é uma palavra intensificadora do que eu não quis dizer, assim como a dúvida torna tudo iniludível. Estou sempre aqui e o motor da existência volta e meia me faz ouvir um barulho estranho, ao pé da noite. Todas as minhas aparências são como fotografias retocadas, ofuscadas pela verdade e a verdade é uma imagem distorcida do que eu não sou, precisamente equivocada. Vivo o desastroso aproveitamento de saber-me, afago a elasticidade das horas, que expiam meus pecados intérminos, minuto a minuto e amo o lado de cá do espelho porque me completa. Então, perdôo-me.


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