A paciente Portuguesa

Data 03/11/2023 18:31:35 | Tópico: Poemas





O verão estava a gastar os seus últimos dias de trabalho árduo quando conheci o Rui, uma pessoa bastante estranha, tanto na forma de falar como de andar.

Nos nossos primeiros contatos visuais, ele fazia-me lembrar o "Companhia", o eterno amigo do “Batatinha”... Nunca pensei que o meu coração um dia se apaixonaria por alguém do circo!

Eu encontrava-me naquele local onde a brancura mais se assemelha ao purgatório da lixívia, a tratar das cicatrizes abertas e dos fantasmas que pairavam acima das vistas.

Ele deveria acalmar esses fantasmas e ajudar na cicatrização das feridas de quem lá estava e não ter aquela postura apalhaçada e divertida.

Não sei o que despertou o amor por ele, mas com o tempo, comecei a notar a sua gentileza, a forma como se expressava, a educação e a simplicidade com que cuidava de mim.

Sempre perguntava se eu estava bem quando nos encontrávamos.

Um dia, quando menos esperávamos, os nossos corações já se entendiam na sua própria língua...

Acabámos por sair daquele local e, cá fora, passámos a cuidar um do outro.

Ele ajudou-me a superar a montanha da bulimia e da dependência de substâncias.

Eu ajudei-o a lidar com as pessoas que não o avisaram das suas partidas.

Uma união que durou 8 anos e meio. No primeiro dia juntos, pensávamos que duraria uma vida.

No fim de contas, acabei por superar a minha doença e comecei a gostar de mim mesma.
Quanto a ele, no final, não se comportou da forma mais digna.

Ainda hoje guardo aquela mágoa que me impede de o perdoar. O mais estranho é que trabalhamos na mesmo local, mas não nos falamos, ele tornou-se asqueroso...

Como é possível ter gostado um dia do "Companhia" e agora ter-se tornado num "Companhia" velho e corcunda, horrível.

Ainda bem que essa relação não resultou, mais tarde encontrei um homem a sério, que me deu o filho mais bonito do mundo, e sou muito feliz.

Como dizia o meu pai, antes de encontrarmos a pessoa certa, passamos por anomalias, amorosas anomalias.







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