Toco a textura aveludada do pensamento e desço a avenida

Data 14/11/2023 00:07:53 | Tópico: Poemas -> Amor

O dia acorda e espreguiça-se num bocejo trémulo, as minhas mãos tocam o meu rosto, como se ao tocar-me fossem abençoar-me, e o toque das minhas mãos fosse o milagre da vida.

Faz tanto tempo que me vejo assim, como um milagre, todas as manhãs quando me olho, me levanto e comigo me encontro neste lugar de silêncio, sinto a paz que me envolve, os sons dos pássaros lá fora, são uma sinfonia aos meus ouvidos, anunciando o esplendor da natureza, enquanto o vento sacode as copas das árvores eu deixo-me ficar neste lugar mágico, aonde inspirar e respirar é como viajar e saborear os sentidos, é como beber o néctar da existência e degustar lentamente este cálice, num brinde a mim mesma em contemplação!

Toco a textura aveludada do pensamento e desço a avenida, como quem busca um caminho e toco as paredes das fachadas, como se ouvisse os sons por entre as paredes, e o bulício da cidade me convidasse a entrar e a sentar para ouvir outras vidas e outras histórias.

Em cada olhar, os meus passos dançam em sintonia com a textura das calçadas, cada passagem é uma coreografia íntima com a cidade.

As fachadas, são como as páginas de um livro urbano, revelam histórias ocultas, e eu permito-me ler por entre as linhas do concreto, absorvendo as narrativas que o tempo gravou. O bulício da cidade torna-se uma sinfonia, convidando-me a participar.

Ao sentar-me encontro outros capítulos, pessoas com histórias distintas, e em cada conversa, tecemos uma tapeçaria de experiências entrelaçadas.

Neste ritual diário, a vida desdobra-se numa poesia urbana, e eu sou a poeta, dançarina e ouvinte da minha própria história.

E escrevo como se viver fosse mais para além deste lugar, fosse mais para além da virtude de amar, e deixo-me ficar assim num vaivém a balançar o meu corpo ao ritmo desta melodia matinal que me envolve e me trás sempre cada vez mais para perto de mim.

Cada palavra é uma nota nessa sinfonia pessoal, onde a existência se revela como uma dança contínua, e eu sou a coreógrafa, moldando os passos no palco da vida.

Alice Vaz de Barros



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