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o pó cobre os corpos cobre o verde desértico da vegetação teimosa da planície arenosa e das escarpas e, ao sopé dos montes pegadas de pés descalços de mulheres voltando das fontes aos seus lares ... regresso com seus temores e tristes olhares sem as cantigas peculiares de seus santos ajudadores
hoje não tem não carne-seca nem água no feijão hoje não sairão banhar-se todas contemplando às estrelas em um conto regional de morrerem e um dia sê-las
hoje tem a fome circundando os quintais cantada pela desgraça do violeiro que fala dos temporais que fala do rio transbordando mas nunca por ele navegou
'o pôr-do-sol é um quadro horizontal maravilhoso demais e, ausente faria secar a tristeza dessa gente'
aves nômades rumam para o mar as daqui já foram nativas ... e tantos animais de costelas salientes tombam impotentes e tantos animaisgente tombam indo e vindo sedentos da chuva chegar ...
e o barro dos açudes amarelos e o barro ocre-marrom e o barro ocre-marrom cobre cobre de doença, mata a fome perpassando as tripas da barriga ... e só a água cristalina guardada na retina não faria essa gente ó Deus ó Deus não faria essa gente sentir-se tão pobre
o caminhão-pipa não chega a espera é um alento para os pais sentinelas e suas crianças magrelas que as mães esperam alheias ao frescor do vento
um relâmpago esperança um sorriso fugaz de todos de todos sentirem a chuva a lama do pó do pó na entranha que molha o pó de lágrimas
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(scsul, 1998)
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