
Persistência
Data 08/12/2023 00:37:21 | Tópico: Poemas
| Na sacada da casa em que vivíamos há tanto a lembrar O tempo desgasta o que o observa, devora lembranças E o silêncio reina absoluto nas trilhas de tua ausência A vida é estrada rústica de pedra sobre pedra e barro Acima, é a amplidão, o céu que a tormenta se apregoa Como fosse um áspero telhado que esconde os astros De onde jorrará raivosa, a água qual um mar de chuva Se merecermos, a vida seguirá e acercarão os invernos Um par de janelas e uma quase invisível teia de aranha Tecida na varanda da casa onde, insone, fazia poemas La fora, o vento assovia as suas melancólicas canções Sacode a todas árvores emudecidas de tuas memórias Que guardam adeuses pendurados em meio aos galhos São como uns pequenos alfinetes coloridos num mapa Anotando entre o cheiro da borrasca o rumo a seguir Na noite enfurecida, derramam-se relâmpagos do céu Aqui é tudo abismo e a morte já não contrasta a vida Sigo exilado de teus carinhos, pois te tornaste etérea Depois disso fui obrigado a seguir fingindo estar vivo O umedecido e solitário rosto sabe lá quanta tristeza Que persiste, não em flama, mas numa desnudada luz Persiste, qual a vela distante, alento que já apagou-se Persiste, não n’algum vaso ou na arisca gora de chuva Na luz das tochas que incendeia a mão que a carrega Persisto, como túmulo sem epitáfio, sem nada a dizer
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