Nas margens da minha alma

Data 18/01/2024 17:38:14 | Tópico: Poemas -> Amor

Nas margens da minha alma,
repousam as lágrimas
que nunca ousaram dançar
pelas trilhas do rosto,
retidas pelos meus sentidos
hábeis, em segurar a fragilidade.

Se ao menos pudesse soltá-las,
vez ou outra, veriam a luz do dia
como testemunhas silenciosas
das emoções guardadas.

As palavras, voam feito pássaros
acuados no peito, anseiam por voar
para além da prisão da linguagem.
Elas sussurram verdades silenciosas
não proferidas, que ecoam numa sala
vazia de confissões.

Mas o silêncio, por vezes abraça-me
como sombras longas ao entardecer,
mantém-me cativa na escuridão
das palavras não ditas.

E assim, as dores, mestras silenciosas,
ensinaram-me a arte de calar.

Cada cicatriz esconde uma história,
um capítulo não escrito em cartas
destinadas ao papel, mas sim gravado
nas linhas do coração.

São marcas de um silêncio eloquente,
de sentimentos ocultos sob a pele.
Esta é uma carta sem destinatário,
uma epístola abandonada ao vento,
Onde deixo cair os fragmentos da minha
alma.
Permito que as palavras dancem na página,
libertas da prisão das reticências...

Elas buscam refúgio nas entrelinhas
do universo, onde o papel se torna
confidente e o vento, mensageiro
dos segredos murmurados.

Assim, nessa confissão ao céu erguida,
revelo a carta inaudita que permaneceu
calada, aprisionada.

Uma carta à deriva, sem endereço
específico, mas carregada de sinceridade,
onde a estrutura se entrelaça com a confissão,
formando um testemunho de emoções
outrora confinadas.

Alice Vaz de barros


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