INFÂNCIA

Data 12/05/2008 00:12:45 | Tópico: Prosas Poéticas


Lembro-me como se fosse o dia de hoje meu caminhar sereno pelo chão da ruazinha. Lembro-me do pé de ipê amarelo em florada imponente. Lembro-me também de gostar de comer guapê, mesmo quando ele amarrava no céu da boca e a pintava de roxo.
E quando a chuva caía bem forte nos dias de verão. Dos trovões e de minha avó tampando todos os espelhos da casa. Eu respeitava esse momento e ficava quietinha no sofá da sala esperando a trovoada passar. Lembro-me do coração acelerado e de não podermos fazer barulho...era uma espécie de culto ao poder da natureza.
Ah! Minha avozinha, como sinto sua falta nestes dias...em que estou voltando às memórias e sentindo ainda teu cheirinho tão doce, mesclado aos temperos que só a senhora era capaz de fazer.
Lembro-me dos carinhos matinais, dos abraços que só hoje sinto a amplitude do que foram em minha vida.
Lembro-me de correr atrás da criação, de dar comida a ela bem cedinho. E como me lembro, minha avó!
Fui uma criança travessa, mas jamais levantei a voz pros meus avós. Mesmo que me julgasse certa nos meus tenros anos de vida, eu os respeitava.
Lembro-me dos natais, da florada das jaboticabeiras, três belas árvores plantadas em frente a sua casa, avozinha. E do pinheirinho de natal com bolinhas quebráveis. Todos os anos eu ajudava a compor a árvore e ficava lá encantada com a sua beleza, mesmo sendo uma árvore modesta, com poucos recursos visuais. Para mim, era um grande orgulho tê-la exposta na sala de estar.
Hoje, lembro-me de tantos detalhes da minha infância que por minutos voltei a ser a mesma menina que brincava de viver e sorria a cada dia da minha vida.
Ainda vives, minha avó Ica nos seus longos 83 anos e meu avô Arthur nos seus 89, mesmo já não mais lúcido...mas sua voz ainda ecoa aqui dentro do meu ouvido como nos dias da minha infância.






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