Litígio

Data 25/03/2024 18:05:45 | Tópico: Poemas

Um vento pagão vinha devorando almas e homens
Movendo-se sobre os pêlos vermelhos de uma velha deusa egípcia que repousava sobre uma
Insidiosa baleia azul.

O movimento das bandeiras militantes,
E as luzes de néon do letreiro do famosíssimo Hotel,
Fundado em mil novecentos e setenta e sete ,
Impressionaram quem vinha e via de longe.

Quedaram-se estrelas marinhas.
Por aquela estranha estrada
Apenas Um Espírito se movia.
Os rododendros da rodovia
Simplesmente estavam sem vidas.

Algo Uno sobrevoou as superfícies aquáticas.
Depois repousou no cimo do Himalaia.

A ventania varreu as rochas em rajadas.

E no primeiro dia se fez o primeiro mês.
No primeiro ano passou-se o primeiro século
Da orbe celestial quedou um perverso objeto
Que reinou preponderante durante um milênio.

E a Serpente, que deu língua aos pérfidos pensamentos,
Se transmutou na Estrela da Manhã,
No Opositor do princípio do primeiro
Litígio no Tribunal Divinal.


E houve silêncio na tarde invernal.
Criaram uma escada que levava ao Céu.
Um vulto laranja se arrastou até impíreo
Deformado o espaço-tempo com sua maciça existência.
Era a possibilidade concreta do fim do infinito.

E os homens sonharam com fodas impossíveis.
As mulheres sonharam com fatos passados
Todos se libertaram das intrigas gratuitas;
Da inteligência intolerante;
Dos confrontos confidenciais;
E se apegaram aos confortos das conquistas
Nas crises existenciais
Das paixões repentinas.

A insanidade, o pecado, as ambições perdidas
Todas sonhadas por nossa mísera filosofia.

Vieram intrigas,
Vieram os vilões
E a mágoa adormecida
Morreu a míngua
Deixando um rastro
Profundo no mundo
Das multidões.

Então eu dormi...
Talvez eu tenha sonhado
— eis o problema
Deste poema,
pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida.

Talvez seja o livro que eu li
Que me fez escrever tanta besteira
Imitando Shakespeare.







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