Cemitério de Barcos

Data 12/05/2008 21:14:03 | Tópico: Prosas Poéticas

Abandonaram-te!

Espreitei-te por entre a rede que me impedia de ir ao teu encontro, queria abraçar-te como se abraça a casa a cada regresso, queria entalar os meus dedos na tua madeira seca, queria tanta coisa que não pude porque uma frase me torturava o olhar "proíbida a entrada".

Entulharam-te!

Enquanto ele me abraçava tu sozinho choravas, dos teus cascos as lágrimas pendiam e eu ouvi os teus lamentos e desenhei com os meus dedos esperança na despedida. Um dia tiveras marinheiros na tua proa, um dia tiveras o mar a beijar-te o casco, neste dia contavas-me histórias tão lindas de idas e vindas mar adentro, mar fora.

O Douro é o teu Pai ausente!


Apeteceu-me chorar mas contive as lágrimas. Ele sabe o que penso de ti ali, tão só quanto abandonado, encalhado num cais de desespero e mágoa. Ele conhece-me! Tu conheces-me! Hei-de voltar para te contar o mar e mostrar-to através dos meus olhos.

Assassinas as saudades?
Não te quero preso!


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