a uma sombra

Data 30/05/2024 09:13:07 | Tópico: Poemas

era uma vez lusco
era uma vez fusco
e as sombras que ambos sombreavam
com dedos encardidos de giz
nunca eram simples sombras

mas geometria imperfeita
de quem se diverte
com lógicas e absurdos
que o criador assim criou
em tempos idos de ditados

como catraio em dia de cábula

cortam aqui contornam acolá
tanta vida tão vária e tão curta
como se falhasse qualquer coisa
e à falta de coisa melhor
tocassem a duplicar

colorindo a negro
todos os seres e objetos e lugares
às custas do velho emasculado
que nem sabia o que era primavera
e o mar era simples lençol de água

não é assim para este poste de salitre

que o lusco-fusco desvanece em vê
sobre o asfalto a arrefecer
que assim cantam em silêncio
a várzea das vagas o vento
o verbo a vitória o vazio



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