carta de amor à mulher que chega com a primavera

Data 27/06/2024 11:52:05 | Tópico: Poemas

Naquele dia em que os pássaros não voltaram da esperança, as flores passaram a conversar apenas nos vasos da tua janela.
Nas praças ninguém reparou a perda do seu perfume, ocupados que andavam todos em achar que a vida se resumia a um encontro repetido com o frívolo acordar das manhãs. Escravos da liberdade.
Mas tu, tu conhecias todos os recantos à solidão, foi por isso que cozinhaste em lume brando a tristeza, e serviste depois a angustia polvilhada do amor guardado para uma ocasião especial.
Abriste o vinho, deixaste que os seus aromas tomassem de assalto o medo, enquanto vestias a confiança e prendias os cabelos com açucenas.
Ninguém sabia o quanto eras Mulher, e a música que se ouvia na tua sala tinha sido composta nas estrelas.
Nada seria igual após aquele dia em que regressaste a ti. As ruas voltariam a estar cheias de gente só, as flores voltariam a conversar nas praças, e os pássaros guardariam para sempre o segredo do teu perfume.

José Ilídio Torres
In " A preto e brando"


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