miosótis

Data 14/05/2008 10:57:33 | Tópico: Poemas

dormiam as miosótis em vaso de vidro
fino
e ao lado a geleia aguardava o chá das cinco…

bebo o cheiro que me chega verde dos pastos
embriago-me
no ópio das colmeias
trinco cada bago destes frutos silvestres
lentamente
repito a ladainha
violada em minha mente
“abre-te sésamo”
[César que sejas em vaso de guerra…]
semente
flor
gesto
que não faço, que não teço

entorpeço lânguida
numa calmaria que não é minha, que não a sinto,
que não me sinto
já.

porque amputaste a miosótis
se o azul ainda escorre em laivos abertos
nos alinhados deste meu sol?

trinco agora
o frio húmido da tarde, enrodilho a lágrima
num sorriso tímido
enrosco-me na lã céltica do casaco antigo.
apática, consinto a solidão pousada
por sobre a mesa

e morro.

quero miosótis, sim, não esqueças,
trá-las frescas por fim…



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