
Quantas causas valem uma vida
Data 09/08/2024 02:00:16 | Tópico: Poemas
| Tudo nosso passou a ser só pra eles Até a identidade nos está sendo roubada pelos mundeles Como se o mundo fosse deles
Negros pescados na terra e jogados no mar
Já 500 anos de opressão -'Somos todos irmãos' Mas sabemos que ainda somos escravos Temos de reconquistar nossa soberania Esta não é terra do colono Esta terra é toda tua e minha.
Faremos tudo por Ngola yetu A nação que temos no peito Faremos por nossos irmãos Presos por pensarem na gente Faremos por nós Sem oportunidades e com a liberdade ao avesso Com a cor da pele transformada em passaporte para desgraça
Grito de guerra dos guerrilheiros É 4 de fevereiro, 1961 Partimos às centenas, destemidos Marchamos como se dentre nós a bala não fosse matar nenhum.
Mas nossas armas não são como a nossa causa são fracas, de lata A polícia colonial em prontidão por nossa causa -''se avançarem, mata''
-'Cortejei mais um' Eles disparam contra nós com sangue frio -'Levanta kamba dyami'
-'Recuar, recuar' Estamos correndo dispersos Com os corações descalços Num solo banhado com o sangue dos nossos Deles só alguns. Haiuéé...
Nós fomos Poucos Passados dias, eles estão praticamente caçando todos Vou perder mais quantos?!!!
-Meu útero um dia deu a luz Más eles mataram o fruto do meu ventre Nada pior para uma mãe do que enterrar seu filho Com que forças cavarei um túmulo para ele?
-Mal desfrutei do meu querido O que fiz eu pra ser dada em casamento Mas dormir todas as noites com o luto deitado em meu peito?
-Tenho mais irmãos Mas cada um tem o seu lugar Como vou viver sem este? Meu mano mais velho, meu mestre
-Meu pai era um bom homem Estava na linha da frente Morreu por sua gente Não vou chorar como quem perdeu A luta continua A victória é certa
1975 É grande a alegria que sinto O governo colono entregou a terra pra o dono Estamos proclamando, perante Angola e o mundo, a nossa independência
Há quem se lembre das datas passadas com alegria "Saudemos! tombaram pela nossa independência" Mas eu ainda me lembro delas com o coração em agonia
Meu amigo caindo Meu irmão morrendo Tínhamos caminhado para o fuzilamento
Hoje em paz, independente Me pergunto sempre Se não tivéssemos lutado haveria independência? Eu não sei Talvez mais tarde
São poucas as victórias que se podem alcançar sem lutas são poucas as lutas que se podem travar sem perdas
Quantas causas valem uma vida? Eu também não sei Mas meu filho, minha irmã e meu amigo Eu não mandaria pra guerra outra vez.
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