
Cinzento (27ª Poesia de um Canalha)
Data 02/09/2024 18:00:17 | Tópico: Poemas
| Caiu o muro e a máscara de um homem já cego O poeta escreveu com veneno as palavras lidas E por ali suicidou o amor escondido entre linhas Um leitor de bolso que passava páginas a prego Parou-se a meio da estrada com as mãos feridas E disse com nu olhar, essas palavras são minhas
Mas não, dele era apenas o mundo do outro lado Seco e sem cor, alvo e estranho que via e não lia Feito dos poemas que sabia de trás para a frente De sabor acre, inerte, pobre, infeliz, só, mutilado Desgovernado nessa anarquia das letras em folia Um bom tipo que tinha por religião ser descrente
Um pouco mais adiante houve tristes que o liam E riam de tamanha ig... não! Ignorância fica mal Diria... vasta opulência, talvez, algo belo e bom O certo é que não o choravam, nem o divertiam Exibiam-se ao olhá-lo cimeiros com douta moral Como se fosse finada orquestra sem errar o tom
O poema, o poeta e a tal alva página anarquista Escreviam-se à vez, de verso em verso, em rima Seguida da declamação brindada com vinho tinto A aguardar o por-do-sol que ali se fazia boa vista A aguardar por ti, por teus belos olhos aí de cima O poeta morre esquecido, imortal, bom e distinto
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