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 Luz e NévoaData 23/09/2024 11:00:56 | Tópico: Poemas
 
 |  | A manhã veste-se de névoa e silêncio, Como se o mundo hesitasse em acordar.
 Os raios do sol, tímidos e longos,
 Brilham entre árvores nuas,
 Rasgando a incerteza do ar.
 
 Quem sou eu, senão o eco dessas sombras,
 Dessa luz que não sabe se chega ou se parte?
 O dia começa, mas em mim tudo permanece,
 Como as árvores que, mesmo sem folhas,
 Guardam em si a promessa de outra estação.
 
 Ah, quem me dera ser a bruma,
 Que existe sem se saber.
 Um instante eterno entre o agora e o depois,
 Sem o peso do que fui, sem a ânsia do que serei,
 Apenas existindo, levemente,
 Como o véu de névoa que cobre o campo.
 
 Mas eis que o sol insiste em nascer,
 E a vida, com sua inflexível rotina,
 Me chama de volta ao chão,
 Onde as sombras crescem,
 E os passos são traços que desaparecem.
 
 Sou como essas árvores, presas ao que sou,
 Mas sonhando com o que poderia ser,
 Raízes na terra, ramos no céu,
 Entre o silêncio e o vento,
 Entre o tempo que passa e o tempo que permanece.
 
 Há em mim uma saudade do que nunca vivi,
 Um cansaço do que nunca fui.
 Mas, como essas árvores que suportam o inverno,
 Eu espero a primavera,
 Que sempre vem, ainda que demore,
 E enche de folhas o que parecia morto.
 
 Enquanto isso, deixo-me perder na névoa,
 Entre a luz que desponta e a escuridão que some,
 No intervalo fugaz de uma manhã sem pressa,
 Onde o tempo, por um breve momento,
 Esquece de ser.
 
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