O pulso da vida

Data 24/09/2024 16:54:02 | Tópico: Poemas










Profuso, o sol sobre o manto.
Dedilha a luz como cordas de harpa.
Lançando raios fulvos. No ouro matinal,
nascem pássaros falantes.
A esvoaçar a paisagem.

Abro um dos meus olhos.
O aberto, ainda escurecido pela noite.
O fechado, açambarca a inocência.
Pelo gemido à volta da boca.
Balbucia a viagem que se abate no ar.

Vivo num corpo incestuoso.
Num frémito com peito impuro.
Relembra-me que há uma raiz.
Como um bolbo de lírio-do-rio.
Ambos vivem em leito aquoso.

Envelheço em solidão com as aves.
No refúgio de mim e da minha sombra.
Com a madureza batida pelo vento.
Sinto o corpo a decidir pelo corpo.
Sinto-o a perecer por mim dentro.

O meu pulso está como seixo de rio.
Fundo. Quando o procuro com pressão.
Perdido na lama dos dedos que o tocam.
Sinto nós de um abismal arvoredo.
Somente terra e pó ficam com expressão.











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