Punição

Data 28/09/2024 14:03:34 | Tópico: Poemas

Tenho aqui nas gavetas da minha memória,
Algumas palavras – e lembranças doridas,
Que os meus dedos feridos ainda podem tocar,
Registradas num código secreto.
Tão secreto, que algumas delas não consigo mais decifrar.

Nem tenho mais a noção do que está além da minha janela,
(Quase não a abro nos últimos tempos).
Nem sei mais o quanto de amor a ti doei,
Nem quantas vezes a minha alma aos teus pés ajoelhou,
Na frustrante tentativa de impedir a tua partida.

Tornei-me escrava das tuas mentiras,
Refém das tuas desculpas estúpidas,
Ré de um crime que não cometi,
(Bateste o martelo feito juiz, impondo-me a punição).
(Tenha certeza: deste-me a melhor condenação).


Deixei-me amarrar pelos teus grilhões,
Aceitei o ferro com o qual me feriste,
Ofertei as minhas costas para as tuas chicotadas,
Dei a face para que bateste sem dó nem piedade: a direita e a esquerda.

Se pudesse voltar o tempo,
Nada em mim mudaria.
Te ofertaria o mesmo amor,
O mesmo sorriso,
As mesmas palavras de apreço,
O mesmo silêncio diante do teu tribunal,
E a aceitação de um destino que não era e nunca foi o meu.
(Para todo pecado existe absolvição - para o teu, também).

Porém,
(E sempre existe um porém),
Já liberta dessa saga que ao fim chegou,
Confesso abertamente e sem rodeios,
Diante do céu e do inferno,
Que depois desse martírio eu não te deixaria jamais,
Em qualquer dia ou tempo,
Arrancar do meu peito,
Tudo aquilo que hoje,
Não consegues mais me devolver....



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