Por favor adormeçam o cheiramázedo

Data 18/12/2024 15:44:50 | Tópico: Crónicas

É favor não lerem esta azia. A puta da insónia é fictícia.

As mil e uma noites de guerra não tinham uma Sheherazade.
Depois dos Urais em cirílico escrito, trocavam cartas em branco.
Nenhuma moça com medo contava o solilóquio do livro.

Dois reis e meio genocídio.
Das centenas de milhares de horas, eram passadas sob escombros. Pelos dois, sobre tronos.
Desiguais.
Esfregam uns as mãos de descontentes. Todos perdem irmãos.

Por mais sonetos que se vomitasse, nenhum tinha o sabor a sangue. Só o horror de criança, sentada no sofá, a ver televisão.
A linha da frente estava sempre preenchida, o verso atrás não era díspar.
Cada frase cortada ao meio. Como soldado amputado. De camuflado, entrou no deserto, vestiu o uniforme cor-de-areia.

Precisamente a meio, o coração e a cabeça, o fígado, o baço, o intestino, o estômago vazio. A cabeça cheia, o coração exangue, o fígado a crescer e o baço, o abraço sem se querer saber.

Nesta altura do ano as pinhas andam molhadas. Pesam mais. Seco-as na noite sob um telheiro duma cave que podia cheirar a mofo. Junto doutra lenha, que fica para os invernos que virão. Ou, para o verão. Já aconteceu. Assarem num grelhador uns frangos, e outras carnes, com o sabor delicioso, delicado a fumo. Salada a acompanhar. Sem pinhões, que darão cor à terra, ou pinheiros mansos.
O lixo, encaixotado. Boa vindima.

As micropotências são uma macronfusão. O núcleo espera. Eventual leva um fim natural. Não vale o esforço, arrancar um electrão. O espaço vive bem sem nós e sem nós não vive.
O engenho aguça a necessidade, afia. Afina. A cisão do átomo ocorre no momento em que uma vida morre. Pó. Poeira. Tudo se transforma. Reforma. Forma. ma. a.

Cada ciência tem seu aprendiz, seu mestre sempre aprendiz. Num tempo indefinido. Tem os seus atalhos, a fugir. Seu trabalho.
A cábula cabe na fábula, sem ser pura a sua inversa. Quem corre para trás o que faz. Corre. Cada ciência tem uma paz chamada paciência. O tempo indefinido é o agora, é todo. O presente não se recebe. Conquista-se.

Dobrou o planisfério no bolso de dentro. Sabia-o de traz para deixar. Nas margens, ao lado da escala, via um coração de duas cavidades. Uma do mais velho e uma da mais nova. Batia disritmadamente. Nunca e sempre o afligiam. Cada mordida tinha vida.
Nada mais tinha para lhes dar. Apenas nada.


A cada parágrafo, Sheherazade contava segundos, minutos, horas, dias, meses, anos...


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