
A Dinâmica do Guarda-Chuva
Data 17/12/2024 16:32:42 | Tópico: Poemas
| Sei que as tuas vinhas crescem, indomadas, e cada verso é um laço que segura o sopro do vento. Não apenas as leio—nas noites de sono, eu as vivo; abrem-se portas em cada linha para a casa onde ainda moramos, cheia de risos e sussurros antigos.
Sei que o silêncio sob o teu guarda-chuva é um abrigo mais que da chuva— guarda segredos, guarda ecos de palavras antigas que me deixas no ouvido, e me pergunto se são minhas ou se as sonhei contigo.
Sei que os teus moinhos, com velas que giram frenéticas, desenham mapas nos céus — cada volta, uma nova rota de ventos que dançam e nunca se repetem. E aqui, neste agora tão frágil, aprendo a respirar livre, longe do peso urgente do tempo.
Sei que roubas o sal das ondas bravas e o devolves aos barcos, uma promessa de viagem; porque pensar, como o mar, só vive se houver sede de novos horizontes.
E sei, por fim, que num futuro qualquer, encontraremos o fio dourado que nos une— pois a infância é a terra à margem deste rio de palavras, e cada verso nos chama de volta ao início, onde tudo começou.
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