Tango Argentino

Data 29/01/2025 19:02:49 | Tópico: Poemas


Silêncio.
É manhã.
O dia acordou.

Abrem-se persianas e janelas.
Abrem-se os olhos.
Para ver o dia.
Mas cegos, ouvimos
o silêncio das nossas pálpebras,
o ritmo da manhã sentida,
a luz que nos alumia.

Sou porta, não sou janela.
Saio e entro de pé.
Saio e entro pelo mesmo sítio.
Saio e não entro mais.
De pé.

Silêncio.
A tarde passou.
É noite do dia calado,
emudecido.
Cego.

Beber xarope de ópio.
Fumar não custa.
Tocar e contar barbitúricos.
Morrer atropelada por quem os transporta.
Apanhar os barbitúricos derramados
e
apanhar a morte.

Quem é?

Cega, agora surda.
Porta, não janela.
Abriu para dentro.
Fechou para fora.
E nunca como agora
se viu tanto vazio,
tão pouco,
espalhado num chão de gravilha,
ouro e latão em mistura,
numa matilha,
sem candura,
só loucura.

Silêncio.
É fim.
O dia acabou.

De pé,
numa porta,
é onde estou.









Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=376465