
De nós dois
Data 01/03/2025 14:02:27 | Tópico: Poemas
| O corpo lembra o que a mente desaprende. O riso ainda ecoa entre os cacos da madrugada, sombra da febre que fomos, desatino de quem nunca soube pousar.
Teve noite em que o mundo era um intervalo de pele, idioma que só as mãos decifravam, geografia de silêncios e fugas sem destino. Eu soube te ler nos rastros, na curva do suspiro antes do erro, na demora do toque antes do abismo.
Depois? Depois a queda, a fome sem nome, mãos que apertam forte demais, o caos bebendo do próprio veneno. Afoguei-me no excesso, tropecei na falta, me arrastei pela ausência como quem desaprende a andar.
E se eu dissesse que o delírio ainda dorme na minha boca? Que o passado tem mãos e me acorda às vezes, escorrendo sob a pele como um segredo que se recusa a morrer?
O amor nunca se exila de tudo. Fica onde o corpo ainda queima, à espreita na dobra de um olhar distraído, no instante antes da repetição inevitável.
Fui teu. Sou ainda.
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