De nós dois

Data 01/03/2025 14:02:27 | Tópico: Poemas

O corpo lembra o que a mente desaprende.
O riso ainda ecoa entre os cacos da madrugada,
sombra da febre que fomos,
desatino de quem nunca soube pousar.

Teve noite em que o mundo era um intervalo de pele,
idioma que só as mãos decifravam,
geografia de silêncios e fugas sem destino.
Eu soube te ler nos rastros,
na curva do suspiro antes do erro,
na demora do toque antes do abismo.

Depois?
Depois a queda, a fome sem nome,
mãos que apertam forte demais,
o caos bebendo do próprio veneno.
Afoguei-me no excesso,
tropecei na falta,
me arrastei pela ausência
como quem desaprende a andar.

E se eu dissesse que o delírio ainda dorme na minha boca?
Que o passado tem mãos e me acorda às vezes,
escorrendo sob a pele como um segredo que se recusa a morrer?

O amor nunca se exila de tudo.
Fica onde o corpo ainda queima,
à espreita na dobra de um olhar distraído,
no instante antes da repetição inevitável.

Fui teu.
Sou ainda.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=376938