As mãos que nunca seguram

Data 07/03/2025 21:20:58 | Tópico: Poemas

O relógio cai sobre a mesa.
Alguém espera que ele derreta.
Mas hoje ele só cai.

Há quem prefira o vidro à janela aberta.
O vidro pode ser limpo.
A janela, não.

Se dúvida houvesse,
os deuses não teriam pressa.
Mas há sempre quem segure a água,
quem conte as moedas antes que o rio as leve.

A posse é um truque de luz.
Basta piscar, e já não há nada.

No sono, alguns acreditam que têm.
Mas é apenas a ausência.
O ar no peito, emprestado.
O verbo ter, uma sombra debaixo da língua.

E, no fim, a fortuna esconde-se sozinha.
As mãos que nunca seguram
são as únicas que nunca perdem.


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