no fundo, sempre o soubemos foi um sonho a que nos atrevemos sonhar, um pesadelo feliz enganador enquanto enxotamos a polícia enquanto compramos o pó
e dançamos ao sopro da embriaguez e do enlevo da heroína fina, pó branco e vermelho para o cabelo para a emissão da televisão robusta agora, minguada depois e chocolates...
pílulas coloridas, sem pó branco parca das cores ingeridas prisioneira da TV, refém do frigorífico, louca da prostração pelas pílulas morenas do sol
tenho um filho; e o que importa? tenho a loucura; e o que importa? ao meu filho o braço da heroína, a mulher mais bela que alguma vez viu, o braço das algemas, das seringas, do cárcere, da sentinela da cor da angústia
e a mulher mais bela que alguma vez viu beleza balançando o destino, a agulha onde comprar? ninguém abandonada beleza amordaçada e pisada, comercializada; e o que importa?
a maravilha da heroína da anfetamina do meio para o fim quem quer um futuro, afinal?
a nossa fotografia tem um número atrás deste-mo pedi-to usei-o usei; a fotografia já não se vê eu não te vejo não vejo TV por aqui só silhuetas, palhetas e que bom é viver!
não tenho frigorífico que caminhe já não tenho o teu braço ele não me tem a mim tu vês como sou feliz? dei-me toda como gado na feira como o sol nos ilumina como a noite que atormenta dei-me toda e não sei de dono
apenas o pó apenas dopada, por favor morro e renasço, como ele, como tu morri e dei-me, dei-me e morri agora já, não depois por favor agora já é o momento certo depois é correr, procurar o dia de ontem
que faço eu aqui? não, não te pertenço: maldito mafarrico, delírio, tortura, perdição-violação, sem pena, gangrena
não, o meu espaço era no éden no anelo do sonho sublime
onde me enganei? onde errámos?
não interessa; ninguém quer um futuro, afinal.
Este poema, como diz o seu título, foi inspirado num filme de Darren Aronofsky, "Requiem for a Dream" (2000), A Vida Não É um Sonho.