a noite acomoda-se triste no beiral da minha janela

Data 18/05/2008 11:04:37 | Tópico: Textos

acordei. levo a mão à janela e afasto a cortina, ainda é noite, ainda chove. a noite acomoda-se triste no beiral da minha janela. levantei-me e olhei o relógio, mentiroso, adiantado mais de duas horas, peguei nele e atirei-o contra a parede, não admito que me tentem enganar. fiquei com o rosto entre as mãos encobrindo alguma ansiedade, entrei na casa de banho a passo de caracol arrastando atrás de mim o sono que me prendera à cama, olhei-me no espelho e assustei-me, tinha os cabelos encaracolados de tal forma emaranhados que as mãos não conseguiam desprender-lhe as pontas, soltando-as sorri para mim. vesti-me, sentei-me na soleira da porta da entrada com o cabelo em liberdade. esperei. esperei. esperei e voltei a esperar. se a vida não é feita destas esperas não consigo entender afinal o que a preenche. quando a manhã rompia e ao fundo da rua o sol se começava a notar no céu vi-te, trazias um mundo inteiro aos ombros, as mãos nos bolsos e os pés descalços palmilhando as minhas derrotas, vitoriosos. chamei-te mas não ouviste e eu continuei sentada esperando que os primeiros raios de sol te acelerassem os passos na minha direcção, paraste a uns dois metros de mim, tiraste do bolso o teu coração que seguravas entre mãos e disseste-me com um sorriso nos lábios, "isto é para ti. ficas comigo?", corri até ti, atirei-me para o teu colo e deixei que os teus braços envolvessem o meu corpo, beijamo-nos, "porque te foste?" segredei-te eu, tu encheste o peito de ar e suspiraste um "desculpa mas não me julguei capaz de te fazer feliz", eu chorei, dei-te a mão e impulsionei-te a entrar "já passou, o importante é que estás aqui. anda. vamos fazer-nos felizes".


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