
O eco dos esquecidos
Data 30/05/2025 21:16:40 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| A ideia é soprada nos meus ouvidos, Não sei se é sonho ou lembrança, Mas queima. Vem leve como brisa de outono, Mas carrega o peso de séculos calados. Escrevo. Com dedos trêmulos, risco o papel Como quem decifra sombras. Talvez seja só imaginação Ou talvez o eco de um grito Que a história abafou em seus porões. Ouço vozes sem rosto, Vozes que se agarram à minha pele, Que sussurram nomes, Datas, Lugares que ninguém mais visita. São os esquecidos. Os que morreram com os olhos abertos, Os que tiveram a boca selada, Os que arderam em fogueiras sem chamas, Os que dançaram em silêncio Nos corredores da loucura. Eles me usam como papel. Minha carne é página, Meu sangue, tinta, Meu medo, trilha sonora. Não sou autor — sou canal. Não crio — evoco. Não escrevo — exorcizo. E a cada linha, Um segredo se liberta, Uma cicatriz se abre, Um tempo se dobra. A ideia não é minha Vem do vento, Vem das frestas, Vem de um tempo que não vivi. Escrevo como quem traduz O sussurro dos que não puderam falar. Escrevo, sim. Mas não por escolha. Escrevo porque se não o fizer, As vozes não me deixarão dormir. Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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