
Rios
Data 01/06/2025 01:12:17 | Tópico: Prosas Poéticas
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Os rios não caminham — eles lembram. Cada curva é uma memória que escorre, uma saudade que se dobra entre pedras e raízes. Os rios sabem o caminho porque o ouvem no fundo do leito, no murmúrio ancestral das nascentes que nunca se esquecem de onde vieram.
Carregam consigo o que o mundo deixa escapar: folhas que já foram verdes, galhos que perderam seu abrigo, reflexos de céu que não ficaram para ver o entardecer. Mas seguem. Sempre seguem. Porque parar é morrer, e os rios nasceram para contar histórias em movimento.
Há um coração líquido em cada rio, batendo sem pressa, com a cadência da terra que respira. Eles abraçam margens com paciência de quem ama mesmo sabendo que nunca poderá ficar. São amantes fiéis daquilo que não é fixo: a pedra, o limo, a garça que parte ao menor ruído.
O rio toca tudo — e nada retém. Ele se entrega inteiro, mesmo sabendo que será outro depois da próxima curva. Talvez por isso os rios nos comovam tanto: são o espelho de tudo que passa, mas não se perde.
Quem se debruça sobre um rio, se ouvir com atenção, pode escutar sua própria alma fluindo. Porque dentro de nós, também há correntes secretas, querendo encontrar o mar.
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