
O Pavão
Data 03/06/2025 14:00:30 | Tópico: Poemas
| nasceste das bromélias que florescem no outono um magnete te trouxe a mim e eu, ferro, te acolhi
viveste colado sugando-me a vida e não se pode dizer que foi sem crer foste tu que escolheste que me quiseste a ferver e um só ficámos até que me deste o teu verdadeiro querer
o retentor estragou o ferro oxidou e tu, íman, voltaste à bromélia que te criou
desfiz-me em dois e uma parte de mim te foi procurar
a outra desligou tu próprio disseste que parou
mas um pavão apareceu e prometeu reparar, ligar a parte que se desacendeu
as suas penas me cobriram quando o frio me assaltou e o medo era grande e possante
foi naquelas cores que para mim abriram me perdi e vi um mundo novo que acordou e acendeu o fogo que ficou num instante
a parte que afinal te encontrou descobriu-te aflito no meio da sobrevivência
pediste piedade e clemência
contudo
o pavão
do sono o acordei e o beijei só sentindo o seu sabor poderia ser eu queria aquela visão, só para mim como nunca desejei e o destino e a vontade fizeram-no meu tão meu que cedi àquilo que – outrora – afugentei
dei-me a si e suas penas me cuidaram os dois vimos o que cata o vento de lei os dois lemos o que os deuses a nós legaram
e agora: perdoo-te, alma antiga? queres a paciência e a minha vida?
ou prendo-me à liberdade e à vontade do desejo do pavão, de mudança e quantidade de beijo de leão e dança madre da união dos amantes rumo à infinidade do que não se sabe e apenas se sente como um chocolate quente que adoça a boca aquece o lábio ferve na garganta e entra em ebulição qual água no fogão mal o sente perto que faz tremer o certo tremer o mundo e o fundo de cada pedaço de pele em que toca cada uma das penas desenhadas à mão por quem sabia segurar um coração
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