À carta

Data 20/06/2025 02:27:51 | Tópico: Crónicas

Quão difícil é querer entender as memórias do tempo. Saber que pessoas estão vivas, mas não sabem que estão. Nos passa uma sensação que implica nas nossas emoções. Lembranças que se tornarão atemporais ou não?! Nesses dias, pude vislumbrar uma situação assim: que levou-me a uma viagem que parecia não ter fim. Antes, conversando comigo mesma num silêncio profundo. Não pude me conter. Pus-me a chorar. Diante de tamanha emoção... Nesse momento de devaneios e/ou reflexões, eu tinha sido surpreendida por uma mensagem, era uma prima, que há muito tempo não via, e não se comunicava. Que dizia assim: Prima, envia o endereço de sua mãe para mim, a minha mãe quer enviar uma carta para ela. Logo pensei: Como assim, ela quer escrever uma carta? A prima sofre de Alzheimer há muito tempo. Por isso, a comunicação ficou para trás. Diante da insistência para o envio do endereço da minha mãe. Mas que depressa confirmei o CEP, que eu nem lembrava mais. Enfim enviei! Nesse período, eu estava com viagem marcada para ir visitar a minha mãe.  Chegando lá, comentei com minhas irmãs. O que tinha acontecido. Ocorreu que a prima em ligeiro tempo trouxe à memória antiga minha mãe, quando elas trocavam cartas. Dessa forma, a filha da minha prima escreveu as poucas palavras daquele momento ímpar. Depois disso, sua memória resolveu repousar outra vez... Voltou a viver inerte, olhando para o tempo sem nada dizer. Sua filha fez a vontade da mãe, a minha mãe, que também está com demência, recebeu à carta. Segue um trecho da carta.

São Paulo, 11 de maio de 2025.

Oi, ...., hoje lembrei de você. Como estão vocês? Ah, amiga, lembrei de quando ia te visitar, você preparava um peixe ao molho de coco... Também lembrei do .... Meu irmão mais velho. Saudades, sua amiga ...
Impactada, minha mãe arregalou os olhos e uma breve lágrima! Claro que minha irmã respondeu, sem minha mãe nada dizer!


Mary Jun
Guarulhos, São Paulo
26/05/25


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